Atinge-me
homem sem rosto,
sublime gosto,
língua que canta.
Na tristeza, posta em beleza,
minha alma com certeza,
se encontra.
(Já li tantos que perdi a conta)
E cada vez quero mais,
Letras que se transformam em cais,
onde ancoro minha alma,
(triste, alijada, sem calma...)
Procuro na palma
uma razão,
uma linha na minha mão,
para que possa eu criar ilusão,
mas não existe.
Existe a certeza,
das letras em beleza,
que me encantam,
cantam melhor que eu
meu pranto.
Um sentimento santo
de admiração,
brota vertente,
verte de meu peito doente,
verte e conserva-se
casto, distante e coerente.
Um terno fraterno
sentimento de irmão.
Conservo, pois percebo
a importância das letras que bebo,
bálsamo para meu coração.
Que as vezes na sombria noite,
onde me invade o açoite
do desejo do fim,
vejo algo além de mim
uma vida escondida.
(Todo mundo tem ferida,
mas nem todos sabem cantar).
Um copo também pode conter água.
mas nunca conterá o mar.
As vezes me sinto sábia.
as vezes parece só lábia,
para me enrolar,
enganar, até meu tempo terminar.
Canso-me, nada mais pode me descansar,
anestesiada,
não sou nada,
só uma triste poesia a rimar...
Mas tenho um poeta que tenho apreço,
queria ser como ele, um terço,
para poder poetar,
rimar com métrica santa,
enrolar-me a noite em uma manta,
beber, sozinha fumar,
deixar fluir os pensamentos,
que habitam o éter, o ar,
e assim dar sentido,
e este meu destino sendido,
sobreviver, para criar meus filhos,
presa a estes lúdicos trilhos,
que se chamam poetar.
E assim ler-me e achar-me pouco genial,
querer sempre fazer o melhor poema,
de mim, do meu dia brotado tema,
nascido do meu peito, belo, rítmico perfeito
poema que surta efeito,
que traga o bem e me afaste do mal...
Amigo poeta, essa poderia ser minha meta,
seria para mim um mundo mais normal,
sublime, puro, belo e firme,
como teus poemas de beleza descomunal.