12.21.2009

De quatro




Acato, aceito,
até anseio,
por este incauto ato
posto-me de dorso
ofereço-te meu pescoço
e meus membros,
quatro.

Não vejo teu rosto,
apenas sinto o encosto
de teu corpo
por cima posto.
Reclino, empino, arfo,
para facilitar de fato
Sivo-te então a ti
em meu leito-prato.

Pressinto terno momento
tua mão em meu mento
a outra guiando meu quarto

Sinto então o impacto!
Com força e resolução
pegas-me com tua mão
e partes-me ao meio
docemente sem receio
aceito,
contigo meu corpo
reparto...

QUE ATO!!!

Cinges-me pelo cabelo,
eu tua, nua em pelo,
encaixo,
Tua mão em meu peito,
abaixo,
conduzes-me pelo seio,
como se fosse relho
(te espio pelo espelho)
abrindo-me ao meio,
em ti me emparelho,
te aceito, acato.

Extendes-me
curvo a coluna
neste sentimento de bruma
que invade,
sentidos em alarde
meu corpo quente arde
em orgásmico ápice
que bebo inteiro
preenchendo meu corpo cálice
de ti...

Ocaso de mim




Nunca mais farei sequer mais um verso de amor
em mim o sol se apaga, eterno amoroso ocaso.
Nunca mais sentirei esta ilusória inventada dor
em mim o mundo gira até meu fim, sem nexo, ao acaso.

Rompido, rachado vaso por onde escorre, se esvai
minha alegre vida, a ilusão perdida, a eterna ida
para o vão do que nada que sou, louco abstrato haikai
que relata sem sentido a anatomia desta ferida.

Vou, já sendo póstuma à minha estrada desvalida
(existência, sobrevivência sem vida só ciência)
prazer de ter, tristeza de não ser, apenas querida.

Espero a morte com resiganação, infinita paciência
estou só por opção, situação por mim escolhida
dispo-me assim de vida, sou morte vestida com decência.


(Que o leitor tenha condescendência...)

Valsa da Solidão





Lanço-me aos braços pagãos
deste mundo vão
danço esta valsa triste.

Rodopio no salão,
Onde o vácuo de gente persiste.

[De mim saio, nada mais subsiste]

Nada antecede, nada precede,

[apenas a lembrança]

Insiste
Resiste
Alimenta

Esta minha alma intensa e violenta
devorando cada segundo de espera, atenta...


E eu? Rodopio do salão do mundo vazio

Vazio de ti...

[será que estou viva ou em letras já morri?]

Fado chamado amor





Do amor fiz-me escrava
e minh'alma fugitiva
desta flecha que crava
mata a mulher e a diva.

Do amor fiz-me altiva
fiz-me jaula de triste luz
solitária, independente, ativa
fiz-me algema de veludo e cruz.

Do amor...Decidi ser dor
por não ter nada que por
no lugar do verbo amar.

Mas hoje escolho sonhar
simplesmente me opor
a este fado chamado amor.

Quem sou eu

Minha foto
Eu sou o fio que liga os pensamentos... o cio dos momentos de afeto... sou o furo no teto... que deixa ver as estrelas... sou a última... não as primeiras... fico no fim da sala... acalmando a alma... que não cala... silenciosa em desatino... sou as palavras sem destino... voando pela goela... sou a alma que berra... o sentimento insano... sou boneca de pano... na infancia da pobreza... sou o louco que grita... as verdades para a realeza... é sou eu... espelho torto do mundo, amor de Prometeu, fogo ao homem, fome de pássaro pontual e solução de caduceu...