10.31.2009

Sou nada

A vida se cala,
nada exala,
entala em minha língua,
a míngua de fala,
viajo sem mala,
pois nada tenho
nada detenho,
nem sei se vou,
ou se venho,
não sei se sou,
se tenho...

Morro a cada instante
vivo de arte diletante.
meu ar restante,
nem mais retenho...

Sinto que minha vida acaba,
vivo em estreita aba,
sinto que sou nada,
nem bruxa, nem fada,
sou fado de um coração,
que já morreu,
apaixonado...


Lembrança do passado...

 à espera dos dias que não vinhas
 o sonho se desfazendo em desejo distante
 conflitos errantes da alma
 uma foto de passaporte
um suporte de sonho sem calma.

Um destino pastado na palma,
um foto, flácida, uma oração,
naquele tempo,
viajou para longe meu coração.

 Uma visita a tua vida,
 minha vida à morte
uma balsa, um rio,
acreditava ter-te
sorte.
 Uma noite de frios
 não chão duro,
um momento sem futuro,
 com meu coração
 macio.

Humanos, simples insanos,
num longínquo passado de cio.

Ao amigo poeta

Atinge-me
homem sem rosto,
sublime gosto,
língua que canta.


Na tristeza, posta em beleza,
minha alma com certeza,
se encontra.

(Já li tantos que perdi a conta)

E cada vez quero mais,
Letras que se transformam em cais,
onde ancoro minha alma,
(triste, alijada, sem calma...)

Procuro na palma
uma razão,
uma linha na minha mão,
para que possa eu criar ilusão,
mas não existe.

Existe a certeza,
das letras em beleza,
que me encantam,
cantam melhor que eu
meu pranto.

Um sentimento santo
de admiração,
brota vertente,
verte de meu peito doente,
verte e conserva-se
casto, distante e coerente.


Um terno fraterno
sentimento de irmão.
Conservo, pois percebo
a importância das letras que bebo,
bálsamo para meu coração.

Que as vezes na sombria noite,
onde me invade o açoite
do desejo do fim,
vejo algo além de mim
uma vida escondida.

(Todo mundo tem ferida,
mas nem todos sabem cantar).

Um copo também pode conter água.
mas nunca conterá o mar.

As vezes me sinto sábia.
as vezes parece só lábia,
para me enrolar,
enganar, até meu tempo terminar.

Canso-me, nada mais pode me descansar,
anestesiada,
não sou nada,
só uma triste poesia a rimar...

Mas tenho um poeta que tenho apreço,
queria ser como ele, um terço,
para poder poetar,
rimar com métrica santa,
enrolar-me a noite em uma manta,
beber, sozinha fumar,
deixar fluir os pensamentos,
que habitam o éter, o ar,
e assim dar sentido,
e este meu destino sendido,
sobreviver, para criar meus filhos,
presa a estes lúdicos  trilhos,
que se chamam poetar.

E assim ler-me e achar-me pouco genial,
querer sempre fazer o melhor poema,
de mim, do meu dia brotado tema,
nascido  do meu peito, belo, rítmico perfeito
poema que surta efeito,
que traga o bem  e me afaste do mal...

Amigo poeta, essa poderia ser minha meta,
seria para mim um mundo mais normal,
sublime, puro, belo e firme,
como teus poemas de beleza descomunal.

Quem sou eu

Minha foto
Eu sou o fio que liga os pensamentos... o cio dos momentos de afeto... sou o furo no teto... que deixa ver as estrelas... sou a última... não as primeiras... fico no fim da sala... acalmando a alma... que não cala... silenciosa em desatino... sou as palavras sem destino... voando pela goela... sou a alma que berra... o sentimento insano... sou boneca de pano... na infancia da pobreza... sou o louco que grita... as verdades para a realeza... é sou eu... espelho torto do mundo, amor de Prometeu, fogo ao homem, fome de pássaro pontual e solução de caduceu...