8.15.2009

O crítico sensato.

le entrou no bar, e viu, já ébrio, o jovem poeta, tonto, ainda sobre o efeito da meia-garrafa de ego que havia bebido. O crítico então prestou atenção em suas mãos trêmulas e compulsivas, escrevendo quase que sofrendo, as confusas emoções que vinham de sua alma. O crítico, curioso com o frenezi do jovem poeta, pegou um texto que havia caído no chão, e, com a pretensão de ajudar-lhe, juntou o mesmo do chão, e devolveu-lhe. Não sem antes dar uma rápida lida (apenas para afagar a curiosidade).
Nos poucos versos que leu viu: figuras de linguagem, disgreções criativas, pensamentos originais, transcendência, estética, musicalidade e conteúdo. Porém, tudo em anárquica dança. Alguns escritos entrópicos cheios de energia e desorganização, com idéias, porém debatendo-se entre si a meio as observações pessoais tidas como originais e próprias. Reconhecia postulados já dissecados por antigos pensadores, colocados como pessoais pelo poeta diletante inculto que, ignorantemente, as achava próprias por desconhecer as letras dos grandes pensadores.
O crítico pensou: "Eis um criativo, pena que ébrio de seu ego". Devolveu a página ao jovem compulsivo poeta ignorante, subiu as escadas até seu quarto, e trouxe uma garrafa.
Sentou-se ao lado do jovem poeta:
-Permita-me dividir este nectar com o amigo?
Creio que te agradará, é antigo, amadurecido ao sabor do tempo, mas mesmo por isso eterno e revolucionário. Prove deste Baudelaire. Me digas o que achas?
O jovem poeta meio perplexo, estava já habituado com a embriaguez e ressaca do próprio ego, cedeu, até um pouco por pena e educação.
-Pois não senhor, afinal o que me custa?
Levou o cálice cheio de poesia ultrapassada do século retrazado à boca. Sentiu descer-lhe pela garganta o néctar do mais puro simbolismo.
O jovem poeta não disse nada, parou de escrever por um minuto enquanto seu olhos brilhavam com a nova experiência literária inebriante.
Então o crítico pensou: "Fiz meu trabalho, por hora... devo ter em algum local outra garrafa de Rimbauld ou Camilo Peçanha..."

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Eu sou o fio que liga os pensamentos... o cio dos momentos de afeto... sou o furo no teto... que deixa ver as estrelas... sou a última... não as primeiras... fico no fim da sala... acalmando a alma... que não cala... silenciosa em desatino... sou as palavras sem destino... voando pela goela... sou a alma que berra... o sentimento insano... sou boneca de pano... na infancia da pobreza... sou o louco que grita... as verdades para a realeza... é sou eu... espelho torto do mundo, amor de Prometeu, fogo ao homem, fome de pássaro pontual e solução de caduceu...