epois de tu teres saído com portas batidas da minha casa, sinto minha alma aos pedaços, cacos de gente espalhados por toda casa, um montinho ali ao lado das rosas que chegaram atrasadas no meu aniversário e só sobraram delas espinhos. Aos poucos me ergo do sofá e ereta ando pela casa com um cigarro "semi-aceso" na boca ( que tu tanto odeias ), mas que importa, vou fumar, não vou mais te beijar mesmo, tudo acabado. Percorro em marcha ré na minha cabeça essa estrada chamada de "nossa vida", estrada esta agora interditada, interompida, toda nossa torta trajetória. Vivo ao avesso toda a nossa história, como mostram nos filmes perto da hora da morte, mas é a morte!( seria ela com um pouco de sorte, mas hoje quem morre é só uma parte de mim, a parte que te amava).
E começo a antecipar essa dor, a dor da ausência do teu cheiro ao meu lado no travesseiro, a dor de chegar ao banheiro e não ver resquícios líquidos da tua presença, dor doída de ouvir uma música e imaginar que irias gostar e não poder te ver em êxtase ouvi-la. Dor de ausência de todas as imperfeições, de todas as tuas faces, desde o anjo até o monstro peludo azul. Dor de não me sentir mais excluida do teu exclusivo mundo particular,( até a exclusão é melhor que a ausência dele). O vazio, a cada minuto da tua ausência antecipada me invade, me tornando uma boneca de fina porcelana, com faces anêmicas pintadas de vermelho choro. Minha cabeça dói, os olho se estreitam e me pesa a cabeça sobre a alma. Começo a imaginar não mais poder te tocar, entrar num mesmo bar e sermos estranhos, não mais nos tocarmos com intimidade dos amantes apaixonados, nem nos sacolejarmos epiléticos ao som de Angus Young.
Ainda ecoa em minha cabeça como diapasão feito de fel o som da porta atrás da tua fúria, e porque? Qual causa? Nada, um atraso, um mau-caso, por isso é pior que acaso, um vivência de desvalia e sofrimento repetida por mim como papagaia louca crocitando as mesmas dores cotidianas. Como permito que te vás?. Meu peito aperta e sinto ele esmigalhar, a simples vivência em pensamento de um inexorável "nunca mais" me esmigalha a alma.
Olho para tudo em busca de um resquício de ausência de ti, em vão, estás em tudo, em cada canto da minha casa, da minha alma do meu corpo. Ai meu corpo, não me lembres dele, queria poder esquecê-lo, queria encerrar ele na gaveta embaixo das calcinhas, embaixo das meias velhas nunca mais usadas. Mas ele grita, clama e se inflama abstinente de ti. Me lembra ele, aos gritos, da tua soberba boca, grossa carnuda e macia com que sugavas meu peito qual recém nato sequioso, ai boca...Que me sussurra segredos indecentes nas madrugadas insones para me despertar e te ajudar a dormir depois da exaustão do sexo. Ai saudade da tua boca!!! Tua boca a deslizar pelo meu pescoço carregando teus dentes até minha nuca, onde a mordiscavas como se fosse prosaico petisco, quero ela agora aqui!!!! Bem no meio das minhas pernas a matar a sede de mulher que tanto tens (e sei que só eu sacio), como se fosse límpida e clara água cristalina da fonte, ai boca...casa da língua que me viola todos os orifícos do meu corpo e da minha alma, que me invade em carne e palavras sussurradas em meus ouvidos mocos. Me lembro das mãos, fortes mãos de homem, que prendem meus seios quando me defloras por trás, alças de meu corpo que usas nos levas-e-trás de teus movimentos. Movimentos violentos que me rasgam de prazer, mãos que reduzem minhas coxas dentro de tuas palmas, de tão tamanha que é a gana que pegas para me virares e me usares conforme teu gosto, ( pois meu gosto é te ver gostar) ser tua, te ver delirar, te divertir com meus mamilos entre teu dedos, entre teus dentes.Como meus olhos imploram para olhar novamente estes olhos enviesados me olhando de esguelha observando o meu prazer, sinto saudade do teu zelo relativo ao meu goso, da tua generosidade em sacrificar a pronta satisfação do teu prazer em prol da multiplicação do meu.
Tudo em mim é nada, tudo em mim é tudo de ti. Me toco e sinto nada, minha vagina vazia clama por ti pelo teu membro impávido, que me completa inteiramente como nunca ninguém antes me completou, pode-se dizer que antes de ti nada existiu, nada valeu a pena antes de ti.
Mais forte que eu é meu corpo, que abre a porta e sai em busca do eco dos teus passos escada a baixo... Vôo pelos degraus em desabalada carreira como se os quatro cavaleiros do apocalípse estivessem em meu encalço( E não estão? Eu sem ti é meu apocalipse pessoal). Tropeço em tua sombra no vão da escada, ela de cabeça baixa sentada em dúvida, agrandada pela incidência do céu do poente da tua alma ( agora azul). Nem penso é reflexo, em mudo, surdo e cego movimento vôo sobre ti ali na escada. Surpreso pulas, tentas murmurar alguma palavra, te calo, te calo com minha boca, engulo todas elas, todas as palavras, todos os porquês com todos os tipos de acentos, engulo, degluto e gesto um novo horizonte sem palavras neste instante, mas agora ainda mudo em gesto de amor agoniado, reconcilhado e vibrante. Te empurro por sobre a escada, (nunca uma cama nos foi tão confortável em toda a " nossa vida"). Se fechar os olhos vejo, a luz filtrada do velho vidro martelado colorido da porta antiga do prédio, a banhar nossos corpos manchados de lágrimas loucas, filhas paridas das neuroses, que agora voltam para o centro do corpo para umedecer nossas mucosas ardentes. Me arrancas as roupas de baixo, como se fossem feitas de papel crepom, e sem muitas delongas me trespassas com teu falo ereto tal qual lança de guerreiro celta, louco, insano e mágico, tingido-me toda deste nosso amor reencontrado no último degrau da escada, onde nua me posto a teu gosto para fazeres de mim "O amor da tua vida", conforme tua graça e gosto, nos unindo em um único ser vibrante completo gerado em conclusão orgásmica conjunta espargida em gemidos sentidos, dilacerantes do amor e do medo.
E assim nos saciamos de nós mesmos, espelhos de nossos amores, dores e desejos, e voltamos a ser nós, enfim nosso único e total desejo.
( subimos escada a cima, voltamos à nossa cama, nos abraçamos e choramos a alegria do reeencontro e com uma doce, meiga e prazerosa sinfonia de corpos nos amamos como se essa fosse nossa única e possível vez, depois dormimos exaustos, tu com a mão por cima do meu corpo nu, e eu vestida de ti.)
O poeta é um fingidor/Finge tão completamente/Que chega a fingir que é dor/A dor que deveras sente. /E os que lêem o que escreve,/Na dor lida sentem bem, /Não as duas que ele teve,/ Mas só a que eles não têm./E assim nas calhas de roda/Gira, a entreter a razão,/Esse comboio de corda/Que se chama coração. Ricardo Reis
8.15.2009
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Quem sou eu
- Tropeços Literários
- Eu sou o fio que liga os pensamentos... o cio dos momentos de afeto... sou o furo no teto... que deixa ver as estrelas... sou a última... não as primeiras... fico no fim da sala... acalmando a alma... que não cala... silenciosa em desatino... sou as palavras sem destino... voando pela goela... sou a alma que berra... o sentimento insano... sou boneca de pano... na infancia da pobreza... sou o louco que grita... as verdades para a realeza... é sou eu... espelho torto do mundo, amor de Prometeu, fogo ao homem, fome de pássaro pontual e solução de caduceu...
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